Por Que Alguns Clubes Usam “SAF” e o Que Isso Significa

SAF

A SAF, ou Sociedade Anônima do Futebol, transformou a gestão de clubes brasileiros, trazendo um modelo empresarial que promete modernização e sustentabilidade financeira.

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Desde a aprovação da Lei 14.193/2021, essa estrutura jurídica tem gerado debates intensos entre torcedores, dirigentes e especialistas.

Mas por que alguns clubes adotam essa abordagem? E o que ela realmente representa para o futuro do futebol no Brasil?

Este texto explora as razões por trás da adoção da SAF, seus impactos e os desafios que acompanham essa transição, com uma análise crítica e argumentativa.

Além disso, a SAF pode ser vista como uma resposta às demandas de um público cada vez mais exigente, que busca não apenas resultados em campo, mas também uma gestão responsável e transparente.

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O Contexto Histórico: Um Futebol em Crise

Imagine o futebol brasileiro como um navio à deriva, com buracos no casco e uma tripulação desorientada.

Durante décadas, muitos clubes operaram como associações civis sem fins lucrativos, mas a gestão amadora e a falta de transparência levaram a dívidas astronômicas.

Um estudo da Sports Value, publicado em 2024, revelou que os 20 principais clubes brasileiros acumulavam R$ 10,3 bilhões em débitos até 2023.

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Esse cenário de insolvência forçou uma busca por soluções estruturais.

A SAF surge como uma resposta a esse caos.

Diferentemente do modelo associativo, ela permite que clubes se transformem em empresas, com acionistas, conselhos administrativos e metas de lucro.

A ideia é atrair investidores, profissionalizar a gestão e sanar dívidas, mantendo a competitividade esportiva.

Mas será que transformar paixão em negócio é tão simples quanto parece?

Historicamente, a falta de gestão profissional nos clubes brasileiros contribuiu para essa crise financeira, tornando a SAF uma alternativa viável para muitos.


A Mecânica da SAF: Como Funciona?

A transição para uma SAF envolve a criação de uma empresa distinta, que assume as operações do departamento de futebol, separando-as do clube social.

Essa nova entidade pode captar recursos, emitir ações e atrair investidores externos.

Um benefício imediato é o regime tributário especial: nos primeiros cinco anos, a SAF paga uma alíquota unificada de até 5% sobre a receita mensal (exceto transferências de atletas), caindo para 4% a partir do sexto ano.

Por exemplo, o Cruzeiro, pioneiro na adoção da SAF em 2021, vendeu 90% de sua operação futebolística para Ronaldo Nazário por R$ 400 milhões.

O investimento foi usado para quitar parte da dívida de R$ 1 bilhão e reestruturar o elenco.

Outro caso é o Bahia, que, ao integrar o City Football Group em 2023, recebeu aportes de R$ 1 bilhão para infraestrutura e contratações.

Esses exemplos mostram como a SAF pode injetar capital novo, mas também levantam questões sobre a perda de controle por parte das associações tradicionais.

Esse modelo tem atraído a atenção de clubes internacionais, que buscam inspiração em práticas de gestão mais eficientes, como o modelo adotado pelo Manchester City.


Tabela 1: Clubes Brasileiros que Adotaram a SAF (Série A, 2024)

ClubeAno de AdoçãoInvestidor/GrupoValor Estimado (R$)
Cruzeiro2021Ronaldo Nazário400 milhões
Botafogo2022John Textor1,4 bilhão
Vasco2022777 Partners700 milhões
Bahia2023City Football Group1 bilhão
Fortaleza2024Treecorp Investimentos1,1 bilhão

Fonte: Ge.globo.com, 2024


As Razões para Adotar a SAF

Por que um clube troca a administração associativa por uma estrutura empresarial?

A resposta está em três pilares: sustentabilidade financeira, competitividade esportiva e governança moderna.

  1. Sustentabilidade Financeira: Clubes endividados, como o Vasco, que enfrentava R$ 700 milhões em débitos em 2022, veem na SAF uma tábua de salvação.

A venda de participações majoritárias permite quitar dívidas e investir em infraestrutura, como centros de treinamento.

  1. Competitividade Esportiva: A injeção de capital possibilita contratações de peso.

O Botafogo, sob a gestão de John Textor, investiu R$ 370 milhões em reforços em 2024, alcançando as quartas de final da Libertadores.

Essa estatística reflete o impacto direto da SAF no desempenho em campo.

  1. Governança Moderna: A SAF exige transparência e profissionalismo, com conselhos administrativos e auditorias independentes.

Isso reduz o risco de gestões populistas, comuns no modelo associativo, onde presidentes muitas vezes priorizam reeleição em vez de planejamento.

Além disso, a adoção da SAF pode ser vista como uma estratégia para atrair novos torcedores, especialmente os mais jovens, que valorizam a transparência e a responsabilidade nas gestões.

SAF

Os Benefícios: Um Novo Horizonte?

A adoção da SAF trouxe resultados tangíveis.

Em 2024, sete dos dez primeiros colocados na Série A do Brasileirão eram SAFs, incluindo Botafogo, Fortaleza e Bahia.

Esse domínio sugere que o modelo empresarial eleva a competitividade.

Além disso, a possibilidade de listar ações em bolsa, como fazem Manchester United e Juventus na Europa, abre portas para captação de recursos em escala global, embora nenhum clube brasileiro tenha explorado essa via até agora.

Outro benefício é a profissionalização.

Gestores contratados por mérito, e não por política interna, trazem estratégias de longo prazo.

No Fortaleza, por exemplo, a transição para SAF em 2024, liderada pela Treecorp Investimentos, foi planejada para consolidar o clube como potência regional, com foco em formação de atletas e expansão de marca.

Adicionalmente, a SAF pode proporcionar uma maior estabilidade financeira, permitindo que os clubes planejem suas atividades a longo prazo sem a constante preocupação com dívidas acumuladas.

+ O Que é o Fair Play Financeiro e Como Ele Afeta os Clubes


Os Desafios: Nem Tudo São Flores

Apesar das promessas, a SAF não é uma solução mágica.

A transformação em empresa pode alienar torcedores, que temem a perda da identidade cultural.

O que acontece quando o lucro se torna prioridade e a paixão é relegada?

No caso do Vasco, a relação com a 777 Partners azedou em 2024, com denúncias de má gestão e falta de transparência, levando torcedores a questionarem se o clube foi “vendido” a interesses estrangeiros.

Além disso, a SAF exige planejamento rigoroso.

Clubes que adotam o modelo sem uma estratégia clara correm o risco de repetir erros do passado.

O América-MG, por exemplo, tornou-se SAF em 2022, mas enfrentou dificuldades em 2023, culminando no rebaixamento na Série A.

Isso mostra que o sucesso depende de gestão eficiente, não apenas de capital.

Por fim, a resistência de torcedores e a necessidade de um diálogo aberto entre a diretoria e a torcida são fundamentais para o sucesso da SAF, evitando que a transformação se torne um processo isolado e impessoal.


Tabela 2: Vantagens e Desafios da SAF

AspectoVantagensDesafios
FinanceiroQuitação de dívidas, novos investimentosDependência de investidores externos
EsportivoContratações de peso, maior competitividadeRisco de priorizar lucro sobre desempenho
CulturalProfissionalização da gestãoPerda de identidade e conexão com torcida
JurídicoTransparência e governançaConflitos com investidores
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A Visão Crítica: Um Modelo para Todos?

Nem todos os clubes precisam ou devem adotar a SAF.

Gigantes como Flamengo e Palmeiras, com finanças saudáveis e gestões bem-sucedidas, mantêm o modelo associativo sem prejuízo à competitividade.

A SAF é mais atraente para clubes em crise, mas exige sacrifícios.

A cessão de controle a investidores, muitas vezes estrangeiros, pode gerar desconfiança.

Como garantir que esses acionistas respeitem a história e os valores do clube?

Outro ponto é a desigualdade.

Clubes menores, com menos apelo comercial, enfrentam dificuldades para atrair investidores, o que pode ampliar o abismo entre ricos e pobres no futebol brasileiro.

Em 2024, apenas 63 clubes, de um universo de milhares, haviam adotado a SAF, com predominância em estados como São Paulo e Minas Gerais.

Esse cenário levanta a questão: será que a SAF pode ser uma solução viável para todos os clubes, ou apenas para aqueles que já estão em uma posição privilegiada?

Veja também: Maiores Jogadores de Tênis da História: Estatísticas, Curiosidades e Títulos


O Futuro da SAF no Brasil

O futebol brasileiro está em uma encruzilhada.

A SAF representa uma oportunidade de modernização, mas também um desafio cultural.

Para que o modelo prospere, é essencial equilibrar lucro e paixão, garantindo que os torcedores não sejam reduzidos a meros consumidores.

Clubes devem investir em canais de diálogo, como conselhos consultivos com participação da torcida, e em projetos sociais que reforcem o vínculo com a comunidade.

Olhando para o futuro, a SAF pode pavimentar o caminho para uma liga brasileira mais forte e globalizada, atraindo investimentos e talentos.

No entanto, o sucesso dependerá de gestões éticas e estratégias que respeitem a essência do futebol como fenômeno social, não apenas como negócio.

Além disso, a conscientização sobre a importância da participação da torcida nas decisões do clube será crucial para garantir que a SAF não se torne um modelo apenas voltado para o lucro.


Conclusão: Uma Revolução em Andamento

A SAF é mais do que uma sigla; é um divisor de águas no futebol brasileiro.

Ela oferece um caminho para superar crises financeiras e elevar a competitividade, mas exige cuidado para preservar a alma dos clubes.

Assim como um maestro rege uma orquestra, a SAF pode harmonizar finanças, esporte e cultura — desde que conduzida com visão e responsabilidade.

O desafio agora é transformar essa promessa em realidade, sem deixar de lado o que faz o futebol brasileiro tão único: a paixão que pulsa em cada gol, em cada arquibancada.

Portanto, é fundamental que todos os envolvidos no futebol brasileiro, desde torcedores até dirigentes, se unam para garantir que a SAF se desenvolva de maneira saudável e respeitosa com a rica história do esporte no país.

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